- Cruzex 2013, o que esperar?




Nesse ano a FAB irá realizar mais uma edição do exercício Cruzex, para entender os objetivos e como poderá se dar a edição do corrente ano o Poder Aéreo esteve ontem a tarde, nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em uma exposição aos universitários dessa instituição sobre o exercício.

- Ícaro Luiz Gomes

Para falar como poderá ser a Cruzex Flight 2013 primeiro tem que se explicar o que seria a Cruzex. A Cruzex é um exercício internacional que simula um conflito armado entre Estados fronteiriços, que devido ao direito internacional, se fez necessário a intervenção de uma força de paz para o cessar-fogo, o processo de peace enforcement. De uma lado estariam as Forças de Vermelho (inimigo, FAB) e de outro as Forças de Azul (coalização, FAB e as Forças Convidadas). A ideia da Cruzex surgiu após a participação, como observador, em 2000, do exercício Odax, em França. Mas o contexto que culminou com a criação da Cruzex remota as areias do deserto do Golfo Pérsico, pelo idos de 1991.


A crise internacional gerada pela invasão do Kuwait pelo Iraque, levou o Conselho de Segurança da ONU(quem verdadeiramente manda em alguma coisa por lá) a autorizar uma Força Multinacional de Imposição da Paz. Em uma operação bem orquestrada entre as Forças Armadas do países da Coalização a invasão foi repelida e a ordem restabelecida, destacou-se porém a forma com que o Poder Aéreo foi empregado, seguindo a Doutrina da OTAN; ataques de precisão coordenados destruíram o C² Iraquiano, pacotes aéreos saturaram as defesas aéreas e antiaéreas iraquianas, a superioridade aérea alcançada maximizou a superioridade das Forças Terrestres e do Poder Naval,o uso das novas tecnologias permitiram a crianção de um novo conceito o NCW ;e tudo isso a olhos vistos da população, a partir da mídia enviada ao TO, que, em tempo quase real, viam onde, quando e como as ações ocorriam. Mas não acaba por aí.

O conflito étnico e político da região dos Bálcãs, originário da desintegração do Bloco Socialista (pra mim a URSS e seus aliados, não alcançaram o patamar do Comunismo ficando no estágio socialista) do Leste Europeu, foi/é outro marco que levou a criação do Exercício, mas com efeitos diferentes daqueles produzidos pela Desert Shield/Desert Storm. Na Desert Shield/Desert Storm os objetivos políticos e militares eram bem definidos e os apoios internacional e internos eram fortes, já na campanha dos Bálcãs o cenário era bem diferente, a batuta ficou sob a responsabilidade da OTAN (91, da ONU), com sua Doutrina novamente, visto a divisão entre os atores internacionais sobre a intervenção ou não-intervenção no conflito (a Rússia via aquela região sob sua zona de influência e mostrava-se relutante na interferência da mesma; alguns líderes europeus viam-se incomodados por tamanha agressão aos direitos humanos ocorrerem no “mesmo quarteirão”, mas ao mesmo tempo não podiam arcar com o custo político-financeiro da operação) gerando objetivos políticos difusos e pouco consoantes com os objetivos militares (as regras de engajamento eram tão complexas que praticamente impediam o uso da força). Ainda que possuindo diversas restrições atmosféricas, de regras de engajamento e quanto ao terreno, o Poder Aéreo foi um das formas mais efetivas de impedir/retaliar as ações genocidas do conflito.


Ambos os conflitos serviram para ilustrar e como prova de campo do novo cenário/nova ordem mundial que se desenvolveu após a Guerra Fria. Um mundo multipolar, regionalmente dividido (UE, Mercosul, NAFTA, Tigres Asiáticos,etc.), com uma superpotência hegemônica (EUA) e com a eclosão de diversos conflitos regionais de baixa e média intensidade (Sudão, Oriente Médio, Iraque, Bálcãs, entre outros.) Nesse cenário surgiram algumas perguntas: “Estaria o Brasil(FAB) preparado para esse novo cenário mundial?Qual seria o resultado se o Brasil (FAB) se envolve-se num conflito desses?Haveria alguma forma do Brasil(FAB) se preparar para um evento desses?” Para responder a essas e outras questões surgiu a Cruzex.

Até a presente data foram realizadas 6 operações Cruzex, em 3 regiões brasileiras e com 13 países participantes e outros países como observadores. A primeira edição foi realizada em Canoas (2002), nessa edição ficou marcante o gap brasileiro diante de modernos equipamentos e táticas de combate (leia-se combate BVR e C²) e as dificuldades com a meteorologia e tráfego aéreo roubaram um pouco o brilho, mas nessa época a FAB era uma Força em franca modernização e os ensinamentos colhidos foram prontamente passados aos programas de aquisição e modernização de meios. Na segunda edição, Natal (2004) a FAB já havia amadurecido no ambiente de planejamento e algumas táticas para se contrapor a equipamentos mais modernos já haviam sido estudadas e disseminadas entre os esquadrões, gerando resultados melhores, nessa edição da Cruzex ainda se possuía um perfil mais tático que o atual de C² e Flight. Na terceira edição,em Anápolis (2006) a FAB era uma instituição completamente diferente (meios, treinamento e pessoal), nessa edição a Força Vermelha(FAB) infligiu alguns consideráveis danos as Forças de Azul(Coalizão) conseguindo alguns abates simulados importantes, mas, pelo carácter de C² que já se delineava, as Forças de Coalização “venceram” a simulação. Outra importante característica que ficou mais presente foi a importância que a FAB passou a dar a Comunicação Social, nas outras edições a FAB permitiu e até convidou alguns jornalistas especializados a cobrirem o evento, mas na edição de 2006 em diante, a postura mudou significativamente para melhor.


Na quarta edição, Natal (2008), essa edição foi marcada muito positivamente pelo sucesso no recente exercício realizado nos EUA, o Red Flag 08-03. Nesse RedFlag, um dos mais exigentes/reais exercícios aéreos, o Brasil participou com o 1/14GAv e o 2/2GT e seus meios, a FAB desempenhou um papel “teoricamente” secundário, mas que dentro do contexto do exercício e numa Hipótese de Emprego conjunta com as Forças Norte-Americanas lhe seria o mais adequado. Os conhecimentos adquiridos na Red Flag foram postos em prática já em outubro na referida edição da Cruzex, esses conhecimentos se traduzem principalmente na forma de atuação de uma unidade Agressora (Força Vermelha) e no formato de C² que o exercício adquiriu. Nessa edição, os dados sobre abates ou quem venceu a simulação não foram mais divulgados, já que o formato do exercício tomou foi o de C², segundo algumas más línguas as causas foram um possível constrangimento ocasionado pela divulgação de certos resultados. Bem da verdade ou não, a não divulgação de resultados não impediu que alguns informações chegassem aos jornalistas que cobriram o exercício. Essa edição foi também uma das mais bem elogiadas, senão a mais bem elogiada, pelos jornalistas especializados. A partir dessa edição uma realidade começou a bater forte a porta, os custos de um exercício como a Cruzex, a partir dessa edição a delegação Argentina não mais compareceu com aeronaves devido aos custos com pessoal e combustível, na FAB as restrições orçamentárias geradas pelo alto custo da previdência e assistência social das Força Armadas, seguidas de sucessivos contingenciamentos e envelhecimento conjuntural da frota começaram a cobrar seus preços.

A quinta edição, Natal (2010), foi foco de ampla cobertura pelo Poder Aéreo, apesar das dificuldades técnicas enfrentadas. Foi a primeira edição com a cobertura do Poder Aéreo e um dos ponta pés para a edição da Revista Forças de Defesa. Nela a primeira participação dos EUA com aeronaves, a França com seus Rafales e a maior participação de observadores militares de outras Forças Aéreas abrilhantaram o maior exercício do gênero na America Latina. Cabe ressaltar ainda a primeira participação da Marinha do Brasil com aeronaves, no caso, UH-14 (Super Puma).


Já a sexta edição, Natal (2012), foi inteiramente no formato de Comando e Controle (C²), ou seja, nada de aeronaves. Nessa edição o Poder Aéreo também esteve presente e por uma decisão técnico-editorial a cobertura foi mais discreta, mas conseguimos que a direção do exercício na pessoa do Brig. Egito, por intermédio do Cecomsaer, respondesse à alguns questionamentos sobre a referida edição. A ausência de aeronaves não impediu a continuidade do treinamento, ao contrário, a nova sistemática adotada permitiu que novos elementos fossem introduzidos aumentando significativamente a complexidade do exercício. O componente aeroespacial esteve presente de forma especial com a inclusão simulada de uma constelação de satélites e de aeronaves remotamente pilotadas. Nessa edição ocorreu inclusive ataques simulados de armas químicas e nucleares. Contando com 13 países participantes, sem incluir no número os observadores, a Cruzex C² 2012 teve o maior número de países participantes.

Cruzex Flight 2013

Na tarde da última quarta-feira, dia 21/08, oficiais da FAB estiveram na Universidade Federal do Rio Grande do Norte para realizar uma exposição sobre o exercício Cruzex Flight 2013 e iniciar o processo de seleção de estagiários dos cursos de Comunicação Social – Jornalismo e Letras – Língua Inglesa que irão auxiliar os militares da FAB e das Forças Aéreas convidadas. O Poder Aéreo por meio do seu colaborador em Natal-RN, Ícaro Luiz Gomes, entrou de “penetra” na exposição para trazer algumas informações já confirmadas aos seus leitores. O Major-Aviador Rodrigo Canas e o Tenente-Jornalista Humberto Leite realizaram uma apresentação de slides que durou cerca de 20 minutos e a exibição de três vídeos institucionais sobre a Cruzex e a Ágata 7. Um dos ganhos secundários da realização da Cruzex é a inter-relação do meio acadêmico e militar por meio dos estagiários recrutados nas universidades que auxiliam os militares na execução dos exercícios.

A previsão é que o exercício ocorra entre os dias 29 de outubro e 19 de novembro, incluindo ai as fases de mobilização e desmobilização. Os portões abertos está previsto para o dia 09 de novembro. O exercício esse ano trará aproximadamente 100 aeronaves, das quais cerca de 85 aeronaves estarão sediadas em Natal-RN. Os países com participação já confirmadas são: Brasil (sede), EUA, Argentina, Chile, Venezuela, Uruguai, Equador, Canadá e Colômbia. A França, um dos países fundadores do exercício não confirmou sua presença com aeronaves.


O Brasil trará ao exercício aeronaves dos modelos: F-5EM/FM, F-2000 Mirage, R/A-1 Falcão, A-29 Super Tucano, K/C-130H Hércules, E-99, SC-105 Amazonas/Pelicano, H-1H Iroquis/”Sapão”, H-60 BlackHawk, H-34 Super Puma e , estreando, o AH-2 Sabre. EUA, Chile e Venezuela trarão seus respectivos F-16. Argentina trará seus A-4 Skyhawk. Equador trará os A-29 Super Tucano. Uruguai e Colômbia trarão A-37 Dragonfly. O Uruguai trará ainda IA-58 Pucará. Outras aeronaves reabastecedoras, de transporte e apoio virão pelos diversos participantes. O Canadá trará o CC-130H. O Chile e os EUA trará ainda o KC-135. A Colômbia o seu KC-767 Jupiter. Entre outras aeronaves ainda não confirmadas, mas previstas.

Estão previstos cerca de 1500 militares participantes do exercício. As reuniões das delegações participantes estão ocorrendo com maior freqüência, com uma das principais ocorrendo desde a segunda até a sexta. Outros países enviarão seus observadores militares, mas ainda não dados concretos de quais e a quantitativo.


Foi apurado extraoficialmente que o cenário de fundo que ocorria, está sendo cada vez mais levado a segundo plano na fase Flight do exercício, vindo mais forte na fase C². Estão previstos cerca de 100 jornalistas/fotógrafos nacionais e estrangeiros, desse total 37 já se cadastraram junto ao Cecomsaer. Cerca de 15 jornalistas/fotógrafos estrangeiros já confirmaram que irão se cadastrar. Os spotter points já estão definidos e, provavelmente, se repetirão da edição 2010.

Fonte: Poder Aéreo -http://www.aereo.jor.br/2013/08/22/cruzex-2013-o-que-esperar/

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